Um raio X da sessão que derrotou o voto impresso

bailey aschimdt
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Bolsonaro perdeu. Mas por um placar que não se vê à primeira vista.

O placar efetivo não foi de 229 a 218 a favor do voto impresso, mas de 284 a 229 contra.

Em uma votação comum, ganha quem tem o voto da maioria dos presentes: quem falta ou se abstém fica fora da conta. Em votação de emenda constitucional, ganha quem tem 2/3 do total de cadeiras (308 votos): quem falta ou se abstém entra na conta — e, na prática, vota contra.

De toda forma, 229 é muito voto, muito mais do que o esperado. Se a proporção verificada na comissão (23 a 11) tivesse se mantido no plenário, como tantos esperavam, o voto impresso teria tido no máximo 174 votos.

Não foi por acaso: Bolsonaro pressionou violentamente os deputados, e Arthur Lira operou pesado para garantir a derrota, mas de maneira a entregar ao presidente uma derrota honrosa.

Há muitos pontos interessantes na votação.

O PP, principal base de apoio do governo, liberou a bancada, e apenas 16 de seus 41 deputados votaram a favor. O PP traiu para valer. Quase todos os outros partidos do Centrão foram mais fiéis a Bolsonaro do que quem mais lhe devia fidelidade.

O PSL, antigo partido de Bolsonaro, rachou pelo meio com a saída do presidente, mas nada menos de 45 de 53 votaram a favor. A maioria dos que mudaram de opinião sobre Bolsonaro não mudou de opinião sobre o voto impresso.

O PSDB tem três pré-candidatos a presidente e orientou contra, mas nada menos de 14 de seus 32 deputados votaram a favor. Aécio Neves, que já disse não haver motivo para crer em fraude em sua derrota para Dilma, foi o único dos 513 integrantes da casa a se abster. O PSDB é uma mixórdia.

O DEM orientou contra, mas metade de seus deputados (13 de 27) votou a favor. O DEM é uma mixórdia.

O PSB é favorável ao impeachment e orientou contra o voto impresso, mas mais de um terço de seus deputados (11 em 31) votou a favor.

O PDT, lar de Ciro Gomes, é favorável ao impeachment e orientou contra, mas 6 de seus 25 deputados votaram a favor.

No Cidadania, favorável ao impeachment, quase metade dos deputados (3 de 8) votou pelo voto impresso.

O Partido Novo é contra o voto impresso, mas mais da metade de seus deputados (5 de 8) votou a favor. Paulo Ganime, do Rio, votou contra na comissão e a favor no plenário.

Algumas lições:

1) Bolsonaro ainda tem grande capacidade de influência, e tem força para barrar o impeachment.

2) A base de apoio de Bolsonaro não é de confiança: muita gente que deveria ter votado a favor, falhou. A oposição tampouco é de confiança.

3) A diferença entre o quórum de abertura e o quórum final foi de 50 deputados: 10%, preferiram fugir a contrariar Bolsonaro abertamente.

4) Nem todo mundo enxergou a votação do voto impresso como um plebiscito sobre Bolsonaro: muita gente votou a favor do voto impresso simplesmente porque é a favor dele (vale lembrar que, há seis anos, 433 deputados votaram a favor de voto impresso).

5) Não existe consistência ideológica na maioria dos partidos. Mas isso, claro, a gente já sabia antes da votação.

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