Um Brasil que está na cabeça de Bolsonaro

bailey aschimdt
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O presidente Jair Bolsonaro foi às ruas hoje para ser visto. Para ser aplaudido pela base bolsonarista, mobilizada por semanas a fio para garantir sua presença nas ruas. A Esplanada dos Ministérios rendeu imagens mais do que satisfatórias para o que o presidente pretendia: fazer seu discurso “enquadrando” o Supremo Tribunal Federal, em especial os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Na Avenida Paulista, as vans se enfileiravam nas ruas do entorno. Ali, o tom foi ainda mais agressivo.

Os atos tiveram tamanho suficiente para atender aos anseios do presidente. Ao ponto de, dias atrás, vários partidos de oposição incentivarem seus líderes a se ausentarem do Grito dos Excluídos, que acontece anualmente no Dia da Independência, prometia lá atrás fazer um contraponto ao governo. Se era para ser menor, melhor que fosse de propósito. E quem sabe organizar um ato mais consistente em resposta ao presidente mais para o fim do mês.

Os bolsonaristas registraram o Brasil que Bolsonaro queria pintar. No Brasil de Bolsonaro, os “canalhas” do Supremo Tribunal Federal estariam à frente de uma campanha de perseguição que inviabiliza qualquer avanço consistente da agenda de governo e ameaça a Constituição. Reféns desse sistema, apoiadores do presidente estariam de mãos atadas e amordaçados. Seria, então, imprescindível paralisar a agenda de governo para trabalhar pela preservação de um direito inalienável de liberdade de expressão sem limites.

Daí a necessidade de assinar uma medida provisória que impede que a suposta verdade dita pelos bolsonaristas nas redes sociais seja apagada sem qualquer motivo. Ou de preparar outra MP, desta vez para garantir que a vacina contra Covid não seja obrigatória. O que seria outra afronta à liberdade dos brasileiros. Essa campanha do Judiciário pretenderia levar Bolsonaro à prisão. E ele avisou que não sai. Esses parágrafos, caso alguém duvide, contêm (muita) ironia.

É nesse Brasil – e só nele – que o presidente tinha na agenda uma reunião do Conselho da República nesta quarta-feira, na qual contaria com a presença de presidentes de outros Poderes. Foi o que ele disse em seu discurso em Brasília. Virou motivo de piada nos bastidores. Parlamentares falavam sobre a “reunião de Bolsonaro com ele mesmo” e a “intervenção de um homem só”, já que nenhum dos supostos participantes sabia da convocação. E, se soubessem, muitos simplesmente não apareceriam.

De qualquer forma, os aliados de Bolsonaro comemoraram o resultado. Só que nada disso resolve os problemas reais do presidente. A avaliação do governo degringolando, as dificuldades de fechar a conta no Orçamento, os obstáculos para criar programas sociais capazes de ajudar na reeleição e o parto para pavimentar uma retomada da economia. No ministério liderado por Paulo Guedes, aliás, não faltavam críticos aos atos deste feriado. Em resumo, o Brasil real não é o Brasil pintado hoje por Bolsonaro.

 

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