Em ‘The White Lotus’, HBO ensina como criar hit com boca a boca

bailey aschimdt
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De uma hora para a outra, só se fala em The White Lotus (Estados Unidos, 2021), a série em seis episódios disponível na HBO Max sobre as relações tortuosas e torturantes dos hóspedes de um resort no Havaí com os funcionários que os recepcionam, e entre eles mesmos. Assim, a seco, não parece ser o tipo de coisa capaz de incendiar o Twitter. Tampouco é fácil categorizar essa criação brilhante do diretor e roteirista Mike White; a rubrica “comédia” soa insuficiente, ou até enganosa, quando há tanta sátira, desespero e drama saturando as múltiplas tramas. Aliás, White fragmenta tanto seu foco que também não faz sentido eleger nomes principais entre o elenco excelente formado por Connie Britton, Steve Zahn, Murray Bartlett, Alexandra Daddario, Jake Lacy, Sydney Sweeney e Molly Shannon, entre outros — ainda que Jennifer Coolidge, ícone do imaginário adolescente como a mãe voluptuosa de American Pie, roube sistematicamente a cena como a triste, carente e pateticamente esperançosa Tanya, a mulher de meia-idade em luto pela mãe horrorosa (palavras dela) que se apega à fisioterapeuta do spa, a resignada Belinda (Natasha Rothwell).

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Do ponto de vista promocional, portanto, The White Lotus poderia constituir um pesadelo. Mas a HBO, que a produziu, tem se mostrado engenhosa na arte de fazer séries como I May Destroy You, Years and Years, Succession e Mare of Easttown “acontecerem” aos poucos e como que espontaneamente, preservando para o espectador a sensação cada vez mais rara de descoberta e de fazer parte de um círculo de iniciados que se alarga à medida que a novidade é transmitida de um entusiasta para outro.

ESTOURO - Jennifer Coolidge: estelar como a carente e grudenta Tanya –Mario Perez/HBO

Enquanto o gigante Netflix trabalha inundando a plataforma de novos títulos e escolhendo uns poucos para campanhas maciças, a HBO quase sempre prefere jogar um jogo longo. Por tradição, não foge de projetos “complicados” e produz em ritmo seletivo, com forte curadoria, para que a marca não se dilua. Desde a concepção, assim, costuma lidar com aquele tipo de material que gera muita repercussão não paga e de grande credibilidade: boca a boca entre o público, e resenhas na primeira linha da imprensa. Aí, é preciso ter algo que poucas empresas do ramo têm — paciência para esperar que os resultados se avolumem. Mas The White Lotus assanhou de tal maneira a crítica que já se encontram até análises da simbologia dos papéis de parede que decoram as suítes do resort havaiano.

Pequenas Grandes Mentiras

Sempre há um ou outro tiro no pé, como a fraca Nove Desconhecidos. Mas, casado ao acervo da Warner e à estratégia desta de lançar seus filmes quase simultaneamente com a estreia nos cinemas, o conteúdo da HBO tem sido decisivo para a HBO Max superar o início trêmulo e acelerar entre os assinantes, além de distinguir-se da concorrência. Pela qualidade frequente e porque, em razão de sucessos como Big Little Lies, The Undoing, Succession e a própria White Lotus, ela ganhou fama de ser a casa daquilo que se chama de “problemas de gente branca e rica”. Quando a dramaturgia é boa, até eles parecem prementes.

Publicado em VEJA de 8 de setembro de 2021, edição nº 2754

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