Com popularidade em baixa, Bolsonaro terá atos contra e a favor pelo país

bailey aschimdt
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Com a popularidade em baixa e movido por uma incompreensível rota de confronto com as instituições da República que ameaça arruinar ainda mais o cenário difícil que o Brasil atravessa, o presidente Jair Bolsonaro será neste dia 7 de setembro o personagem principal de manifestações à direita e à esquerda em centenas de cidade.

O bolsonarismo vem se movimentando há semanas nas redes sociais com o intuito de mobilizar apoiadores do presidente para o que esperam ser um ponto de inflexão do seu governo. O protesto deve ser marcado por críticas ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso e à defesa de pautas antidemocráticas e pedidos de ruptura institucional.

Já a esquerda liderada pelo PT, pelas centrais sindicais e por movimentos sociais como UNE (estudantes), MST (sem-terra) e MTST (sem-teto) também irá às ruas, mas para pedir o impeachment do presidente, uma postulação que, ao menos por ora, não encontra eco nos corredores da Câmara, onde um processo desse tipo teria que tramitar.

A presença de dois blocos radicalizados e antagônicos nas ruas colocou em alerta as autoridades de segurança, ainda mais com a anunciada – e combatida – participação de policiais e ex-policiais militares que apoiam o presidente.

A principal preocupação é com São Paulo, onde os dois grupos farão seus atos no mesmo horário (a partir das 14h), separados por apenas 3 km de distância: os bolsonaristas na Avenida Paulista e os oposicionistas no Vale do Anhangabaú. Como ocorre em outras manifestações desse tipo, a expectativa é que a mobilização paulistana seja a maior do país. Bolsonaro já avisou que irá participar do ato na Paulista, assim como na manifestação de Brasília, prevista para começar às 9h – o presidente deve aparecer por volta das 10h30.

Os atos de São Paulo e Brasília são considerados estratégicos pelos bolsonaristas, que estão concentrando nessas duas cidades os seus esforços de mobilização, mas também há manifestações previstas em outras capitais, como no Rio de Janeiro, onde o protesto está marcado para a Avenida Atlântica em Copacabana. Sem uma organização centralizada, não há uma previsão de quantas cidades terão atos a favor do presidente.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que tem convocado os militantes para o Dia da Independência, exibe material contra BolsonaroPT/Divulgação

Já os grupos de esquerda dizem que há protestos agendados em mais de 200 cidades, muito em razão de eles serem realizados em conjunto com o Grito dos Excluídos, tradicional manifestação criada por uma ala progressista da Igreja Católica, cujas pautas atraíram o engajamento dos grupos de esquerda, e que ocorre há 27 anos, sempre no Dia da Independência.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, tem feito vídeos para convocar os dirigentes e militantes do partido a irem às ruas neste Dia da Independência. “Estaremos na rua mostrando a diferença de nossas pautas. Não vamos para confrontar. Sempre fizemos nossas manifestações de forma pacífica. Não vamos com ódio para as ruas, mas também não vamos com medo, afirmou.

Discursos

Enquanto o presidente confirmou presença em atos de rua, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje o seu principal oponente político, não irá a nenhuma manifestação. Em vídeo postado na noite de segunda-feira, 6, o petista atacou o discurso belicista de Bolsonaro na convocação de seus seguidores para o 7 de setembro. “Mesmo nos momentos difíceis, esse era o dia de levar mensagem de esperança na construção de um país mais soberano e mais justo, um Brasil verdadeiramente independente”, disse. “Mas, ao invés de somar, o presidente estimula a divisão, o ódio e a violência.

No sábado, durante visita a Santa Cruz do Capibaribe, no agreste pernambucano, Bolsonaro afirmou que os atos de 7 de setembro serão um “retrato do povo” que servirá para colocar “no devido lugar” aqueles que “não respeitam a Constituição”. Ele voltou a criticar o STF, em especial dois ministros – Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso –, a quem acusa de “jogar fora das quatro linhas” da Constituição.

O presidente voltou a insinuar que, se o STF continuar atuando como atua, a tendência é uma “ruptura”. “Ruptura essa que eu não quero, nem desejo”, acrescentou. “Tenho certeza de que o retrato da imagem lá da Esplanada (no protesto de 7 de setembro), onde estarei pela manhã, bem como o retrato à tarde, onde estarei na Avenida Paulista, o retrato do povo servirá para mostrar para esses que ousam não mais se submeter à nossa Constituição, eles serão colocados no devido lugar”, discursou Bolsonaro.

Popularidade

O discurso de Bolsonaro vem ganhando um tom maior de confronto dentro de um cenário em que a sua popularidade cai e as pesquisas eleitorais mostram que ele tem perdido terreno para Lula.

Levantamento da Quaest Consultoria e Pesquisa, feito entre os dias 25 e 29 de agosto, mostra que a avaliação negativa de seu governo subiu de 44% para 48% desde julho, enquanto a positiva oscilou de 26% para 24%.

Com relação às intenções de voto para presidente em 2022, Bolsonaro aparece em torno de 20 pontos atrás de Lula em todos os cinco cenários pesquisados pelo instituto: o petista teria entre 44% e 47%, e o atual presidente, de 25% a 26%.

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