Iniciativas buscam recuperar vínculos de estudantes com escolas durante a pandemia no RS

bailey aschimdt
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Municípios e o estado planejam estratégias para retomar as aulas e garantir o foco na aprendizagem. Famílias relatam dificuldades durante período sem atividades presenciais. Iniciativas buscam recuperar vínculos de estudantes com escolas durante a pandemia no RS
Trazer os estudantes de volta à escola e evitar a evasão escolar é o primeiro passo para tentar recuperar tantos prejuízos causados pela pandemia na educação público do Rio Grande do Sul. Mas os especialistas garantem que só isso não basta.
As escolas têm que estar abertas e preparadas, e também é preciso convencer as famílias de que esse retorno é seguro.
Em Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre as equipes da Secretaria de Educação percorrem a periferia da cidade de porta em porta à procura dos alunos. A busca ativa tenta convencer os pais de que é seguro enviar os filhos de volta para a sala de aula.
Depois de um ano só com aulas virtuais, o ensino presencial retornou em maio. A secretaria descobriu que mais de 100 crianças tinham perdido o vínculo com a escola. Diante desse cenário, a pasta decidiu buscar um por um e incentivar o retorno dos alunos.
Esse mesmo trabalho evitou que centenas de crianças e jovens desistissem de estudar em Esteio, também na Região Metropolitana. Desde que a pandemia começou e fechou as escolas em março de 2020, a busca ativa já envolveu mais de 1,1 mil visitas na cidade.
“No início, ainda tinha muita resistência das famílias em função da pandemia. Medo de voltar para a escola, de buscar as atividades. A gente foi conversando, colocando todos os protocolos existentes na escola, o máximo possível. As escolas cuidam muito. E, explicando para eles isso, eles foram sentindo confiança na gente. A gente chegou a buscar aluno em casa e levar na escola. Eles começaram a voltar”, conta a coordenadora Simone Teixeira.
Municípios fazem busca ativa de estudantes para retomada de aulas presenciais no RS
Reprodução/RBS TV
O resultado é uma evasão abaixo de 1% entre os mais de 10 mil estudantes da rede municipal.
Esse atendimento com carinho e atenção convenceu a família de Guilherme Castro Carvalho da Silva, aluno do 5º ano do ensino fundamental, que era hora de voltar pra escola. O menino vive com os avós, e não conseguia fazer as tarefas em casa.
“Em casa, a pessoa fica impertinente, não parava quieto. Tentava ensinar a ele, mas não aceitava o ensino que a gente passava para ele. A gente também não sabia. Tinha que aprender com os amigos”, conta o avô, Daniel Faturi Saraiva.
Com o retorno, Guilherme diz que consegue prestar atenção na aula.
“Agora a gente pode ir para a escola. A gente está bem melhor. Eu me desconcentrava muito. Mas agora vou para a escola para ter ensino do professor ou da professora”, relata.
Estudante recebe atividades escolares em casa
Reprodução/RBS TV
Estratégias
De acordo com os especialistas, é urgente saber o que, de fato, crianças e jovens conseguiram aprender neste ano de pandemia, com algum tipo de avaliação que demonstre onde estão as falhas e onde é preciso reforçar o ensino.
A partir daí, é necessário desenvolver estratégias para recuperação dos conteúdos.
“Para além de uma avaliação diagnóstica, vai ser importante, no começo das aulas, fazer um nivelamento, uma revisão do que deveria ter sido aprendido no ano anterior. Avaliar que crianças ainda têm grandes defasagens, encaminhar crianças com defasagens sérias para um reforço educacional sério e, ao mesmo tempo, priorizar o currículo”, aponta Claudia Costin, diretora do Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas.
Depois de reabrir as escolas este mês, a Secretaria da Educação de Porto Alegre se prepara para projetos de reforço da aprendizagem. O foco é nos três primeiros anos do ensino fundamental, com as crianças da alfabetização.
A pasta pretende oferecer aulas de reforço a partir de setembro. Vão ser quatro horas a mais para essa etapa, em um trabalho desenvolvido por organizações da sociedade civil em turno inverso ao da escola regular. A prioridade é atender 12 mil crianças.
“A campanha é para mostrar que o ganho de estar na escola não é só o ganho cognitivo. Tem toda uma questão social, de troca. E, não estando no atendimento presencial, estão em casa, nas ruas, vendendo nas sinaleiras. A gente precisa urgentemente retomar o vínculo da criança e do estudante com a escola”, pontua a secretaria Janaina Audino.
Porto Alegre faz campanha para que alunos retornem ao ensino presencial
A carga horária será ampliada também na rede estadual, com duas horas por semana a mais em português e três horas a mais em matemática, além de um programa de aceleração da aprendizagem.
“Temos que olhar os dois anos de currículo, otimizar ou flexibilizar. Isso significa pegar as habilidades estruturantes, marcos do desenvolvimento, para trabalhar em cima”, considera Raquel Teixeira, secretária estadual da Educação.
Secretária detalha como se dá a retomada das aulas presenciais na rede estadual do RS
Famílias e professores
A escola pós-pandemia não será igual à que fechou em março de 2020, mas terá o desafio de lidar com estudantes e famílias profundamente marcados pelas transformações impostas por um vírus mortal. E não dá para deixar ninguém para trás.
A educadora Elaine Ferrão está entre os 100 professores contratados este ano pela prefeitura de Esteio para dar aulas de reforço em casa. As crianças que estão com problemas de aprendizagem causados pela pandemia estarão entre as prioridades.
“Eu espero assim ajudar ao máximo cada criança que eu atender. Eu acho que vai dar muito certo isso aí. E a gente vai conseguir resgatar muita criança dessa forma”, diz.
Atividades presenciais recomeçaram em agosto, no segundo semestre letivo
Reprodução/RBS TV
A meta da Prefeitura de Esteio é atender 1,4 mil alunos, como Gabriel Souza, que está no 6º ano e não tem internet em casa. No ano passado, a mãe buscava as tarefas na escola, para ele fazer.
“Aqui em casa era só o meu padrasto para ajudar, mas ele só podia me ajudar no final de semana. Durante a semana ele trabalhava. Não tinha internet. Daí era ruim para poder fazer os trabalhos”, diz o menino.
Ana Viviane Lima de Souza, mãe do adolescente, mal sabe ler e escrever. Ela fica comovida ao saber que, a partir de agora, o filho vai ter um atendimento especial.
“Eu fico bem emocionada porque eu não consegui aprender. Eu estou com 33 anos e não aprendi. Eu espero o melhor para os meus filhos”, afirma.
Professora em sala de aula, no Rio Grande do Sul
Reprodução/RBS TV
Vídeos: RBS Notícias

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