Um pessimista e um otimista entram num bar

bailey aschimdt
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Texto originalmente enviado aos assinantes da newsletter Stock Pickers no sábado, 04 de setembro de 2021. Para recebê-la, clique aqui.

Sextou na Faria Lima. Geraldo, um gestor, e Tarcísio, um trader, se encontram pra um happy hour*. O assunto você já sabe qual é:

Geraldo: Fala aí Tarcísio, tudo bem?

Tarcísio: Mais ou menos, né?

G: Por que, tá perdendo dinheiro???

T: Não cara, mas você não tá vendo a m** que vai dar?

G: Do que você tá falando?

T: De tudo, Geraldo! Inflação em 7, pibinho ano que vem, tiroteio entre Executivo e Judiciário, preço da gasolina me fazendo voltar a andar de metrô, DEFORMA tributária aprovada, Selic com pinta de 2 dígitos, dólar acima dos R$ 5,00, risco de apagão, ameaça de greve dos caminhoneiros, manifestação no dia 07 e outra no dia 12, presidente falando em jogar fora da constituição, eleições ano que vem… precisa de mais alguma coisa?

G: Calma, cara… Brasil é sempre assim, mas no fim tudo dá certo…

T: Lá vem você com papinho ingênuo de longo prazo… nessa que você quase perdeu tudo com a Dilma. Se você não tivesse aceitado meu conselho para comprar dólar naquela época, tinha tomado uma ré que talvez nem teria mais fundo.

G: Pô Tarcísio, não precisa jogar na cara também, mas já vi esse filme tantas vezes que já me acostumei. Prefiro pensar em anos e não dias… é muito louco ver o progresso que tivemos nos últimos tempos. E não precisa ir muito longe. Coloca na conta só 20 anos e me diga se a coisa evoluiu ou não. Quem acertou o cavalo no início da fenômeno da internet não tem do que reclamar.

T: Tá… mas que eu te salvei, salvei.

G: Só que se não fosse por mim você também não teria comprado quando a bolsa fez em aquele low em 2016 nos 37 mil, porque estaria achando até hoje que o país nunca se recuperaria daquela pancadaria que foi o impeachment… Só o Ibov deu mais de 150% até hoje e quem comprou Eneva junto comigo ganhou uns 700%.

T: O problema de ser “zé comprinha” como você é ficar sempre confiando que tudo ficará bem e não conseguir se proteger de eventos como o Joesley Day… essa foi outra porrada que um otimista demoraria para se recuperar. Lembra que o Ibov caiu quase 9% só naquele dia? Não dá pra ser otimista com tudo caindo na sua cara. Lembre-se: se sua carteira cai uns 60%, ela vai precisar subir mais de 150% só para voltar pro zero a zero.

G: Voltou a ler Taleb, né Tarcísio? Tu gosta daquele vendedor de livro… Pessimistas tipo você parece que esquecem de estatísticas simples: mercados ficam positivos em 52% dos dias, 60% dos meses, 70% dos anos, e em 95% das décadas. Taleb não sabe disso, mas o Buffett sabe bem… A Berkshire já caiu mais de 50% duas vezes e entre 1998 e em 2000 ele caiu 48%. E nem preciso falar sobre o retorno anual dele.

T: Mesmo citando Taleb parece que você não gosta de ler o que ele escreve… Buffett é uma exceção e a exceção é o exemplo do burro. Como dizia minha vó, canja de galinha e dólar na carteira não faz mal a ninguém. Prefiro me proteger do que ter que ficar explicando e pedindo para cotista pensar no longo prazo com frase do Buffett. Sempre que a bolsa cai dá para saber quem pensa só pensa no longo prazo, porque é uma chuva de frases do velhinho no insta e no Twitter.

G: É… como disse o “Stuhlba”: quem ganha, ganha; quem perde, explica. Mas será que ele é uma exceção também para você? O Fundo Verde já está na cota 200 e só teve um ano negativo uma única vez nesses 24 anos de vida. A alocação mínima do fundo em bolsa é de 30%. Ele não teria nem isso durante todo esse tempo se não fosse também otimista. Um dos trades mais históricos da sua carreira nasceu depois de uma palestra com o Mercadante. Ele comprou Brasil vendo que o Lula não ia destruir o país. Lavou a égua.

T: Mas vai esquecer o de 99 quando ele comprou dólar vendo que o BC ia soltar o câmbio? No longo prazo tudo vai ficar bem… vai… fala isso para quem tomou – 80% ou algo parecido durante a crise de março do ano passado. Ou para quem estava comprado em OGX…

G: Você acabou de dizer que a exceção é o exemplo do burro e agora fala de alguns poucos casos para provar seu ponto. De 63 até hoje o Ibov deu mais de 50.000% em dólar. Cara, imagina quem deixou de comprar bolsa por conta de todas as crises que o país já viveu? Nem preciso falar tudo que rolou de lá até hoje… Quem viveu a década de 80 tinha todos os motivos para achar que isso daqui nunca daria certo. Chegamos a ter 80% de inflação ao mês.

T: É… mas tem que tomar cuidado com o viés de sobrevivência. O cemitério dos perdedores é silencioso.

G: O Brasil é quase uma impossibilidade matemática. Isso daqui é uma bagunça sem fim, mas olhando para tudo que aconteceu e onde estamos hoje, é impossível não acreditar na capacidade de reinvenção das pessoas. Em 2000, pela primeira vez em 150 mil anos de espécie, a população pobre ou vulnerável já não é mais a maioria no mundo. 50% da população mundial é agora classe média ou rica! Na década de 1950, uma criança brasileira aos 10 anos tinha a expectativa de viver até os 63. Hoje, alguém com a mesma idade viverá até os 77.

T: Vai virar palestrante motivacional? Nada contra… mas estou falando de retorno, dinheiro, money, cash…

G: E eu não? Estava pensando até na possibilidade de abrir uma vaga para um trader lá na gestora. Talvez…

T: Talvez a gente até possa trabalhar juntos um dia…

G: Apesar de você ser palmeirense, até que é gente boa. Vou pedir a saidera, vai querer?

Esse diálogo é fictício (ou não). Mas o episódio que gravamos na última quinta-feira com certeza é real. Sara Delfim e Agatha La Combe, da Dahlia Capital, vieram ao Stock Pickers para uma conversa que durou mais de duas horas e nos explicaram porque o otimismo, no mundo dos investimentos, costuma ser vencedor. Apesar disso, não deixaram de ressaltar a importância do curto prazo na construção do portfólio.

O Renatão, um pessimista de carteirinha, está sem dormir direito até hoje após a aula da Delfim sobre otimismo.

Josué Guedes
CMO do Stock Pickers

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