Bolsonaro avança sobre as polícias e conquista adeptos, mostra estudo

bailey aschimdt
bailey aschimdt

Desde que os atos de sete de setembro foram anunciados, uma preocupante incerteza ronda a cabeça dos governadores brasileiros: qual será o comportamento dos policiais militares, escalados para impedir que as manifestações descambem para a violência e atentados contra a democracia? As dúvidas estão ainda mais presentes em São Paulo, onde João Dória (PSDB) terá de garantir que não haja conflitos entre os apoiadores do presidente Bolsonaro e militantes da esquerda – que marcaram protestos para o mesmo horário na capital paulista – , e no Distrito Federal, onde caberá a Ibaneis Rocha (MDB) montar um esquema de segurança da Praça dos Três Poderes e evitar que manifestantes invadam e depredem o prédio do Supremo Tribunal Federal.

Enquanto se especula, um estudo realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública joga luz sobre o tema e mostra que há sim motivos para preocupações. Com base em analise nas redes sociais, os pesquisadores perceberam que o bolsonarismo mais radical tem avançado a passos largos sobre os quartéis das polícias militares Brasil afora. Eles compararam as interações de policiais que mantém perfil aberto nas redes com as páginas bolsonaristas e notaram que elas subiram 24% entre 2020 e 2021.

No mesmo período, as presença de PMs em páginas consideradas mais radicais, por defenderem ideias não compatíveis com o estado democrático de direito, subiu 29%. O dado é ainda mais expressivo quando se compara as interações dos oficiais das Polícias Militares, cuja presença em ambientes virtuais radicalizados subiu 35%.

“Ao contrário de todos os outros presidentes anteriores, que reportavam a questão da segurança pública aos governadores, Jair Bolsonaro assume a pauta como sendo uma responsabilidade dele. Mas isso se dá mais no discurso do que na criação de uma agenda que possa melhorar a segurança da população, a implantação do Sistema Único de Segurança Pública, por exemplo, está praticamente parada”, explica Renato Sérgio de Lima, diretor do FBSP.

Cabe ressaltar que a maioria dos perfis de policiais militares monitorados, 52%, não teve nenhuma interação com páginas bolsonaristas, mas no ano passado esse número era de 62%. “Os setores mais radicalizados tentam criar a narrativa de que estamos perto de  um ponto sem volta, que não há nada que os governadores possam fazer a respeito, mas há medidas concretas que podem mudar esse quadro”, defende Renato. “Os governadores precisam assumir a pauta da reforma das polícias criando uma política de cargos e salários, ao mesmo tempo em que implementam programas de governança externa, chefiados pelo Ministério Público”, propõe.

O clima de tensão em torno do dia da independência subiu na últimas semana, depois que o coronel da ativa Aleksander Lacerda, responsável por batalhões no interior do estado de São Paulo, convocou soldados da corporação a participarem dos protestos. Foi afastado por ordem do governador João Dória, mas o recado já estava dado. Desde então, as redes bolsonaristas e grupos nos aplicativos de mensagem têm incentivado a ida de policiais da ativa à manifestação, o que é vedado por lei. 

Internamente, o governo paulista trata o assunto como um caso isolado, mas mantém um trabalho dos grupos radicalizados nas redes sociais. Cerca de 30 homens da inteligência da polícia civil vasculham a internet em busca de informações que possam revelar a intenção de cometimento de atos antidemocráticos “Se o policial tem respeito ou gosta de seguir o bolsonarismo, eu não posso impedir que ele faça isso, mas eu posso impedir que ele tenha um comportamento que possa prejudicar o trabalho policial”, diz Rui Ferraz Fontes, delegado geral da polícia civil de São Paulo.

 

 

Compartilhe esse Artigo